segunda-feira, 25 de outubro de 2010

[continuação 2.4]

E lá estava ela, fria, pálida, sem aquele belo sorriso que eu sempre amei ver estampado naquela boca rosada, que agora estava branca,  parecendo tímida,  querendo não sorrir, na verdade ela não poderia sorrir, nem se eu suplicasse. 
A sua voz  eu não poderia mais ouvir, agora me bate um arrependimento das vezes que pedi para ela ficar quieta, não sabia que vê-la quieta assim me faria tão mal, a sua respiração ofegante eu não poderia mais sentir, nem o gosto dos seus beijos, nem o toque suave daquelas delicadas mãos, eu não sentiria mais o seu corpo quente sobre o meu, e o pior de tudo, nunca mais ouviria ela dizer “eu te amo”.
Enxuguei minhas lágrimas enquanto observava ela deitada, dentro de um lugar que eu jamais quis vê-la, na verdade eu sempre pensei que ela me veria primeiro lá dentro, sei lá, acho que qualquer pessoa que tem um grande amor, jamais pensaria que ele fosse partir primeiro que você, e no meu caso não foi diferente.

-Amiga! –Samantha estendeu os braços quando me viu

Eu a abracei fortemente, eu precisava de consolo, precisava de alguém ali comigo, fiquei um bom tempo abraçada nela, de certa forma aquela abraço me confortou.
Logo atrás estava Mel, que também me deu um abraço forte e duradouro...

-Amiga, sinto muito... –disse Mel sem jeito, eu não respondi nada

Elas ficaram ali comigo, abraçadas a mim, uma de cada lado, parece que elas sabiam que eu precisava de apoio, eu já não estava mais agüentando, minhas pernas desabariam a qualquer momento, me segurei nelas, só amigas mesmo para nos fazer sentir um pouco melhor nessas horas.

-Toma Anne... –disse Roberto me dando uma xícara com café
-Não quero mano! –disse recusando
-Por favor  Anne, tu  está quase um dia inteiro sem colocar nada no estomago!
-Tá   –disse pegando a xícara. Eu não estava com fome e muito menos com sede, aceitei para não fazer desfeita, ele estava apenas tentando cuidar de mim.

Demorei quase meia hora pra por aquele café no estomago, realmente eu estava sem a mínima fome.
Ficar naquele lugar não me fazia bem, resolvi ir para fora, queria sentar em um banco e respirar.

-Victória  –estendi os braços quando a vi chegar
-Amiga, sinto muito... –disse Vick  gaguejando

Não preciso dizer que eu desandei a chorar quando ela me abraçou, ela era minha melhor amiga, aquela de infância, ela acompanhou minha história com Marina desde o inicio.

-Perdi ela amiga, pra sempre... –disse aos prantos

Ela não falou nada, Vick sabia que qualquer palavra que ela falasse não faria eu me sentir melhor, não faria passar a dor que eu sentia naquele momento, então ela apenas me abraçou forte.
Ela ficou ali comigo por algum tempo, logo depois ela foi lá para dentro dar um abraço na família.
Eu comecei a andar pelo cemitério, me distanciei bastante de onde todos estavam, eu queria respirar, eu queria pensar, precisava chorar sem ninguém por perto, precisava falar pra Deus a dor que eu sentia, o vazio que cada vez mais tomava conta de mim. Eu não queria pensar de como seria a vida sem ela.

-E agora Deus? A metade de mim se foi, eu estou me sentindo morta, não quero mais viver, não tem por que viver mais, eu vivia pra ela, eu vivia para amar ela, e agora que ela se foi, o que eu faço com esse amor que eu tenho no peito? Eu não quero jogar fora, eu não quero dá-lo a mais ninguém, porque ele pertence a ela...
Continuei andando, fitando os túmulos, eu não prestava atenção, mas ficava um bom tempo olhando.
-Por que tirou ela de mim Deus? –disse olhando para o céu
Estava um dia de sol radiante, mas por que para mim o dia parecia feio? Se o sol estava lindo e mais brilhante do que nunca.

-É que o céu acabou de ganhar mais um anjo Anne!  –respondeu meu sub consciente tentando me consolar
-Será que eles lá em cima sabem que esse anjo cuidava de mim?  E que agora sem ele eu estou desprotegia?
- Só porque não está mais do teu lado, não quer dizer que ele não vai mais te proteger Anne...

Dessa vez eu não quis respondê-lo, ele não entenderia, diria pra mim que foi melhor assim, que assim ela não sofreria mais, que agora ela estava ao lado de Deus.  Assim como eu também jamais conseguiria entendê-lo, a única coisa que eu desejava era ter ela com saúde aqui do meu lado, só isso, seria pedir demais?
Tanta gente ruim pelo mundo e justo ela tinha  que partir? Por que comigo?  Por que tirar ela de mim desse jeito Deus? Por que?

Eu já estava ficando indignada com Deus, aquilo não me entrava na cabeça, eu não conseguia aceitar, poxa, ela era jovem, linda, com tanta coisa pra fazer na vida...
Novamente eu enxugava minhas lágrimas, que nesse momento não paravam de cair, eu me sentia como uma nuvem carregada, pronta pra deixar cair uma enorme tempestade, uma tempestade que me deixaria muito mal.
Resolvi voltar, meu irmão deve estar preocupado achando que eu estivesse fazendo alguma loucura.
O padre já estava lá fazendo a sua oração junto a todos presentes, a sala estava cheia, mesmo querendo eu não conseguiria entrar lá. Fiquei do lado de fora, ouvindo tudo que o padre falava mas sem prestar a mínima atenção, durante algum tempo fiquei conversando com Marina, eu não estava louca, eu sei que a onde ela estivesse, eu sei que ela me ouviria, sei lá, só queria me despedir, dizer que a amo e que jamais iria esquecê-la.
Me obriguei a lembrar dela apenas nos momentos felizes, porque esses são os que ficam eternizados na mente, e eu sei que são esses mesmos que ela gostaria que eu lembrasse.

-Vem Anne... –disse Vick me abraçando, a reza já havia terminado e eu nem percebi

Estávamos indo em direção a sepultura dela e durante todo o sepultamento eu permaneci quieta, também já não havia mais o que dizer.

-Mamãe vai chover  –ouvi uma voz de criança atrás de mim
-Fica quietinha filha!

Fitei o céu, ele estava completamente diferente, estava nublado, estava escuro, carregado de água, do mesmo modo como estava minha alma dentro de mim.
Quando menos percebi já não havia mais caixão, as pessoas já estavam indo embora...
-Vem Anne, vamos lá pra casa... –disse Sam
-Não, vou ficar aqui mais um pouco!
-Tá bom, vou te esperar lá na entrada! –balancei a cabeça concordando, ela me deu um beijo na bochecha e foi.

Fiquei ali, de pé, fitando a sua sepultura, pensando,  o vazio dentro de mim era tanto, que eu não tinha nem lágrimas mais pra derramar.
Coloquei  em cima do tumulo uma rosa vermelha que eu estava segurando...

-Por favor, volta um dia pra me encontrar, tu prometeu!





Em Memória Amorosa

Obrigado por tudo que você fez
Eu senti sua falta por tanto tempo
Eu não posso acreditar que você tenha ido e
Você ainda vive em mim
Eu sinto você no vento
Você me guia constantemente

Eu nunca soube o que era
Estar sozinho... não
Porque você sempre estava
Lá para mim
Você estava sempre lá esperando
Mas agora eu vou para casa
E sinto falta do seu seu rosto
Sorrindo para mim
Eu fecho meus olhos para ver
E eu sei
Você é uma parte de mim
E é sua canção
Que me deixa livre
Eu canto ela quando
Eu sinto que eu não posso mais segurar
Eu canto hoje à noite
Porque ela me conforta

Eu carrego as coisas
Que me fazem lembrar de você
Em memória amorosa da
Única que era tão real
Você era tão amável quanto você podia ser
E embora você tenha ido
Você continua sendo como o mundo para mim

Eu nunca soube o que era
Estar sozinho... não
Porque você sempre estava
Lá para mim
Você estava sempre lá esperando
Mas agora eu vou para casa
E não é o mesmo, não
Eu sinto ela vazia e só
Eu não posso acreditar que você tenha ido
E eu sei
Você é uma parte de mim
E esta é sua canção
Que me deixa livre
Eu canto ela quando
Eu sinto que eu não posso mais segurar
Eu canto hoje à noite
Porque ela me conforta

Eu estou alegre, ele deixou você livre da tristeza
Eu ainda lhe amarei mais amanhã
E você estará aqui
Ainda comigo
E o que você fez, você fez com sentimento
E você sempre achou o significado
E você sempre vai
E você sempre vai
E você sempre vai

E eu sei
Você é uma parte de mim
E é sua canção
Que me deixa livre
Eu canto ela enquanto
Eu sentir que eu não posso mais segurar
Eu canto hoje à noite
Porque ela me conforta

terça-feira, 19 de outubro de 2010

[continuação 2.3]

Chegando no hospital...

-Régis! –disse andando até ele, dando-lhe um forte abraço, ele não se conteve e começou a chorar.
Eu pensei no pior ao ver ele chorando, eu não sabia o que estava realmente acontecendo, se ela estava bem, se havia melhorado, mas pela reação dele ao me ver as coisas não estavam nada bem...

-Ela não ta bem Anne! Cada segundo que passa o estado dela piora... –disse Régis chorando entre soluços, limpando suas lágrimas
-Meu Deus! Quando ela veio pra cá?
-Faz uma semana, ela veio pra cá fazer uns exames, mas estava tudo bem, e do nada ela começou a piorar e piorar... –ele estava inconsolável, chorava como uma criança, e o desespero dele estava me deixando desesperada também –A Marina não deixou eu te ligar logo quando ela veio pra cá, mas hoje Anne, ela me pediu pra te chamar, ela disse que sabia que estava morrendo e que queria se despedir de ti.
Eu abracei ele novamente, ele me apertou forte, e com a cabeça no meu ombro entre soluços ele falava :
-Deus, não leva ela, por favor, por favor!

Aquilo me partia o coração, me deixava desesperada, sem saber o que fazer, a minha única reação era chorar, chorar e chorar.
Régis me levou até onde estava sua família, dei um abraço em cada um deles e me sentei no sofá de espera, eu queria muito vê-la, mas eu estava travada, sem reação.

O médico chegou perto para conversar com a família...
-Eu posso ver ela doutor? –enfim perguntei
-Você é da família? Desculpa é que só pode entrar familiares! -respondeu
-Ela pode entrar sim, é a namorada da minha filha doutor! –disse a mãe de Marina. Ela me olhou com um olhar de compreensão, eu sei, essa velha sempre me odiou, mas agora não era o momento pra ela implicar comigo.
Enfim, o médico me levou até onde Marina estava, e antes de entrar no quarto ele advertiu:
-Bom Anne,a Marina está dormindo por causa dos remédios, ela pode acordar a qualquer momento...e por favor, tente não provocar fortes emoções, pois pode deixar ela agitada e...
-Já entendi! -disse entrando

Dei sorte por ela estar dormindo, porque depois de vê-la desandei a chorar, ela estava tão diferente, sem cabelo, pálida, muito magra, eu a vi de um jeito que eu jamais quis ver.
Cheguei mais perto e então me sentei na cadeira que estava ao lado da sua cama, fiquei olhando fixamente sua boca, aquela que muitas vezes eu beijei, que várias vezes vi sorrisos estampados, e agora estava tão triste.
Peguei sua mão, estava fria e então segurei-a com as minhas duas mãos, fazendo carinho, tentado aquecê-la, fiquei assim por um bom tempo. Vários momentos nossos me passavam pela cabeça e às vezes eu sorria de canto lembrando...

-Tá rindo de que?
Eu a olhei surpresa, sua voz estava fraca, e ela batalhava para abrir completamente os olhos.
-Oi meu amor! –sorri torto tentando disfarçar, mas estava difícil conter as lágrimas.
-Oi  –respondeu com certo esforço –Eu estava com saudades...
-Eu também, muita... –beijei sua mão
-Desculpa por não ter me despedido de ti!
-Tudo bem amor, já passou... –disse fitando sua mão
-Mas agora que tu está aqui vou poder me despedir, e dessa vez é pra sempre!
-Não fala assim Marina...
-Anne, eu sei, eu estou morrendo, eu sinto isso, e antes que aconteça, quero dizer que eu te amo mais que tudo, sempre vou amar, agora no fim não tem como te esquecer e...
-Pára amor  –interrompi –Não fala assim –disse segurando forte sua mão

Ela estava ficando agitada, nervosa, e tudo isso a deixava muito cansada. Ela conversava comigo com muito esforço.
O médico entrou dentro do quarto e me pediu pra sair,disse que eu tinha que deixar ela descansar, pois conversas assim a deixava esgotada, pois a emoção é muito forte e pode prejudicá-la. Pude ficar por mais alguns poucos minutos, até que ela dormiu, eu não queria deixá-la, não queria me afastar, tive uma vontade imensa de permanecer do lado dela até ela sair daquela cama e melhorar completamente, mas o médico ordenou que eu saísse, e para o bem dela eu saí.

Voltei para a sala de espera, onde estava sua família...
-O que tu tá fazendo aqui? –me espantei ao ver que Roberto estava lá
-Eu te segui, não entendi por que saiu de lá de casa daquele jeito...
-Que bom que tu veio –dei um abraço nele
-Vem, vamos comer algo...
-Não to com fome Mano!
-São 3:00 horas Anne, tu saiu de casa sem comer nada, vem vamos, pelo menos tomar um café na cantina...
-Tá
...
-Ei, onde vocês vão? –perguntou Régis
-Vou levar a Anne pra comer algo ali na cantina  –respondeu Roberto
-Espera...-disse Régis
-Que foi? –questionei
-Desculpa, mas eu esqueci de te entregar isso... –disse Régis me entregando um envelope
-O que é?  -perguntei
-Não sei, Marina me entregou isso logo quando viemos para o hospital, e pediu para te dar quando eu te visse... –respondeu
-Tá bom. –disse fitando o envelope

Seguimos indo para a cantina.
Roberto me fez mil perguntas sobre Marina, como ela estava e tal, só respondi o pouco que eu sabia, tive medo de descobrir mais sobre o estado dela e saber que no final de tudo eu ficaria sem ela novamente...

-Ain mano, eu não sei muita coisa, também tenho medo de descobrir, só quero que ela fique bem, só isso...-disse chorosa
-Pega, toma um pouco de café, quer um sanduíche também?
-Não... –disse balançando a cabeça negativamente enquanto tomava um gole de café –To sem fome!
 Ficamos por um bom tempo ali, mesmo aquele café sendo horroroso.
-Anne, vou no banheiro, já volto ta?
-Tá!
Fitei o envelope que eu deixei sobre a mesa, resolvi abrir. Dentro tinha um pedaço de papel meio amassado, abri lentamente o papel dobrado e comecei a ler...

Perdoa a minha pressa, mas preciso te dizer
Se receber este bilhete por um tempo não vai mais me ver
Estou partindo agora e aonde eu vou você não pode ir
Não chegou a sua hora, seja forte tente resistir.
Não dá pra me amar, já não pode me tocar
Você tem que seguir, seu caminho sem mim
E pra esquecer da gente, olhar pra frente um conselho vou dar
Guarde uma foto ou duas, um perfume, algo assim
Jogue fora o resto pra não se lembrar mais de mim
Com o tempo as coisas voltam a rotina normal
Só uma coisa nunca mais vai mudar         
Quem ama uma vez não deixa de amar.
Vou fazer uma promessa, um dia eu volto a te encontrar
No momento adeus, se cuida, de quem sempre vai te amar


PS: não esqueça de seguir o que eu pedi...
Guarde uma foto ou duas, um perfume, algo assim
Jogue fora o resto pra não se lembrar mais de
 mim!

Te amo para todo sempre!
Marina

Quando Roberto voltou do banheiro eu já estava aos prantos, senti algo muito forte no coração, uma angústia, algo ruim que me deixou mal...

-Ela não vai morrer, ela não pode morrer! –disse chorando enquanto Roberto me abraçava
-Calma  Anne,  vamos voltar pra lá, tu vai ver, ela vai estar bem... –disse me guiando até a sala de espera

-Doutor Leonardo, comparecer urgentemente no quarto 303!– ouvimos

-Esse não é o quarto da Marina? –arregalei os olhos
-Não sei Anne  –respondeu Roberto

-Repetindo... Doutor Leonardo, comparecer urgentemente no quarto 303 -ouvimos novamente

-Sim, é o quarto dela! –disse
Puxei meu irmão para um passo mais apressado, o aperto no meu coração me dizia que algo não estava bem.
-O que foi Régis? –perguntei assustada
-Não sei Anne, a enfermeira entrou no quarto e de repente chamou os médicos, eles vieram correndo. Meu Deus, o que está acontecendo? –disse ele aflito, já chorando
Passou-se dois minutos e nós sem sabermos o porque de toda aquela aglomeração de médicos no quarto da Marina, até que vem um deles até nós...
-O que aconteceu doutor? –perguntou a mãe de Marina chorando

Ele balançou a cabeça negativamente, com uma expressão nada feliz no rosto.
Aquilo já me dizia tudo, cai sentada no sofá de espera, coloquei as mãos no rosto e me pus a chorar.

-Sinto muito, ela não resistiu  –disse o médico

sábado, 2 de outubro de 2010

[continuação 2.2]

24 de dezembro, já era véspera de natal e eu estava indecisa, não sabia onde passaria a noite, com  minha família ou com meus amigos...
-Ah sei lá Anne, acho que tu deveria ir pra casa dos teus pais... –disse Sam
-Tu ta me chutando Samantha? –arqueei a sobrancelha
-Não, é que datas como essa a gente fica com a família né!
-Eu sei, mas é que o clima lá em casa ta tenso amiga!
-Pois é, mas tu tem que esquecer dessas brigas Anne, só por hoje, é natal poxa... –sorriu
-É, vou fazer isso! –sorri

Liguei pra minha mãe, combinei tudo, à noite eu iria pra lá passar a ceia com toda minha família, pai, mãe, tios, primos, avós e afins.

Falando em natal, lembrei que Marina havia dito na carta, que nosso amor era como uma linda noite de natal, ah como ela me fazia falta, não queria passar essa noite longe dela, queria poder abraçá-la, beijá-la e encher ela de presentes, como eu sempre fazia em todos os natais.
Mesmo sabendo que essa noite provavelmente eu não a veria, resolvi dar-lhe um presente, bem diferente de todos que eu já dei, uma surpresa, que eu sei que quando ela visse, iria amar.

“Amiga, preciso que tu me encontre urgentemente no parque às 15:00 horas, em frente ao bazar da tia Nica. Beijos Anne.
PS: tenho um presente de natal pra ti! *o* “

Mandei essa mensagem para minhas melhores amigas: Vick, Sam, Mel e Nanda.
E por incrível que pareça elas estavam lá, e no horário certo, fiquei pasma.
-Ei Anne, o que são essas caixas? –questionou Vick quando me viu chegar
-Tá atrasada hein filha... –resmungou Nanda
-Deve ser o meu presente! –sorriu Mel
-E o meu também! –disse Sam animada
Cheguei sem responder, apenas pedi para elas me seguirem até um banco que tinha perto de uma árvore que havia no parque, larguei as caixas e sentei. Fiquei a observar a árvore e as caixas...
-É, acho que dá sim...-falei pra mim mesma
Elas ficaram me olhando confusas...
-O que tu ta lokiando ai Anne? –indagou Sam
-Estou pensando se...-dizia eu
-Uau, ela pensa – Mel me interrompe e ri
-Como eu estava dizendo, estou pensando se o que eu trouxe vai dar...-disse fitando a árvore e ignorando  Mel
-Vai dar? –perguntou Nanda sem entender
-É, se vai dar pra enfeitar a árvore... –respondi
-Que árvore? –questionaram juntas
-Aquela árvore! –disse apontando para a mesma.

Elas ficaram por um tempo olhando a árvore, confusas, foi engraçado...
-Pra que tu quer enfeitar essa árvore criatura? –perguntou Nanda
-Porque é natal!  –sorri
-Meu Deus, ela é enorme! –disse Vick fitando a árvore
-Isso que é espírito natalino hein! –debochou Mel
-Tu não iria enfeitar uma árvore desse tamanho só porque é natal Anne... –disse Sam desconfiada
-É claro que não! –sorri
-Então... –disse Sam
-É pra Marina! -respondi
-Como assim? Como ela vai ver? Ela voltou? –disse Mel
-Não, ela não voltou, mas eu sei que ela vai ver essa árvore enfeitada... –sorri ao olhar pra ela
-Com tanto presente pra ti dar pra ela, por que logo uma árvore? Olha o tamanho disso! –Nanda arregalou os olhos
-É que ela ama árvores de natal. E eu não vou dar pra ela, só vou enfeitar PARA ela! –sorri
-Huun! Gostei  -sorriu Sam
-Então...mãos a obra! –disse levantando e abrindo as caixas com os enfeites
-O que? Tu vai fazer a gente enfeitar essa coisa ai também? –reclamou Mel
-É lógico, por que tu acha que eu te chamei aqui então? –disse
-Pra me dar um presentinho de natal? –sorriu Mel e eu comecei a rir
-Tu acha que a Anne ia dar presente de natal pra gente? –disse Nanda rindo
-E por que não daria? –Mel fez cara de criança pidona
-Hello! Ela disse que ia nos dar presente só pra gente vir aqui dã! –disse Vick
-Amém senhor! –exclamei
-Ela nos usou! –disse Mel inconformada, nós rimos
-Parem de reclamar! Vamos ajudar a Anne de uma vez... –disse Sam pegando enfeites diversos da caixa

Ficamos a tarde toda conversando enquanto enfeitávamos a árvore, lembrando dos vários momentos que passamos juntas, principalmente os engraçados. Vick e Sam não paravam um segundo de discutir, eu e as gurias riamos delas, era engraçado de ver uma pegando no pé da outra, chegamos a conclusão que toda essa briga devia ser amor.
Já havia anoitecido quando terminamos de enfeitar, ela ficou linda toda enfeitada e iluminada.
Agradeci minhas amigas pela ajuda, levei Vick, Mel e Nanda até suas casas, eu e Sam fomos para o apartamento tomar um banho e nos arrumar, pois mais tarde cada uma iria para a casa de sua família passar o natal.

Deixei Sam na casa dos seus pais e fui para a casa dos meus.
Lá estava toda a minha família, completa, me espantei, tinha até um primo meu que eu nunca vi antes na vida.
A casa estava toda enfeitada, bem nos espírito natalino mesmo, a mesa farta, a arvorezinha de natal num canto, presentes embaixo dela, a família toda reunida na sala conversando, eu fiquei feliz por ver todos juntos e em harmonia, fazia tempos que isso não acontecia, só o natal mesmo para reunir a família em peso. Mas apesar de tanta coisa boa que estava acontecendo naquela noite, eu sentia um vazio dentro de mim e esse vazio não era fome, mas sim saudades, uma imensa saudade que eu sempre carregava comigo, e a culpada era ela, a mulher que eu mais amo, Marina.
Senti vontade de chorar, fui até meu antigo quarto e tranquei a porta, fiquei revirando uma caixa de fotos e cartas, que eu resolvi não levar embora comigo, preferi deixar na casa dos meus pais, para evitar ficar olhando e chorar ainda mais. Mas naquele momento tinha nas mãos uma foto do natal passado, Marina e eu estávamos juntas, com taças de champanhe na mão, sorrindo e felizes. Ela estava tão linda na foto, com os cabelos cumpridos, um sorriso enorme no rosto, ela estava feliz, muito diferente da Marina de hoje.
Guardei a foto ao me dar conta que eu já estava aos prantos olhando para ela, ao fechar a caixa senti uma fincada forte no peito, soltei um gemido de dor, me sentei na cama com a mão no peito, fiquei parada olhando para o nada, pensando e desejando estar com Marina nesse momento, só Deus sabia a falta que eu sentia dela, o quanto me doía por dentro ficar longe daquela mulher que eu tanto amo, embora eu me faça de durona durante o dia, o que ninguém sabe é que eu choro todas as noites desde que ela me deixou.
Enxuguei minhas lágrimas e voltei para a sala, já iriam servir o peru, e como sempre, eu fui a primeira a se sentar à mesa...

-Mas a Anne já ta ai! –exclamou minha avó
-Claro Vó! Tô esperando a bóia! –sorri
-Mas eu lembro, desde pequena, tu sempre é a primeira a se sentar à mesa... –disse minha avó sorrindo ao lembrar
-É porque ela é esfomeada vó! –disse Roberto rindo
-Olha quem falando! Gordo! –botei a língua pra fora
-Que nada, sou bem magrinho, olha aqui... –disse Roberto mostrando sua barriga enorme, eu apenas ri
Fiquei algum tempo brincando com os talheres, batendo nos copos e pratos, tentando fazer alguma melodia, e como sempre minha mãe me xingou...
-Tu vai quebrar esses copos guria! –gritou minha mãe da sala
-Nem vou mãe!  Olha que tri minha nova música... –disse batendo novamente nos copos
Ela veio até mim e tirou os talheres da minha mão...
-Tu parece criança Anne... –resmungou
-Mas eu sou teu bebê mãe! –disse fazendo biquinho, ela me deu um beijo na bochecha
Logo o peru estava pronto, todos se sentaram à mesa...
-Esqueci dos guardanapos, Anne pega lá pra mim! –disse minha mãe
-Tá  -respondi
Ao me levantar senti algo vibrar no bolso, era meu celular, atendi enquanto ia até a cozinha...

-Alô! Régis? Como? Tá, to indo agora mesmo ai!