terça-feira, 19 de outubro de 2010

[continuação 2.3]

Chegando no hospital...

-Régis! –disse andando até ele, dando-lhe um forte abraço, ele não se conteve e começou a chorar.
Eu pensei no pior ao ver ele chorando, eu não sabia o que estava realmente acontecendo, se ela estava bem, se havia melhorado, mas pela reação dele ao me ver as coisas não estavam nada bem...

-Ela não ta bem Anne! Cada segundo que passa o estado dela piora... –disse Régis chorando entre soluços, limpando suas lágrimas
-Meu Deus! Quando ela veio pra cá?
-Faz uma semana, ela veio pra cá fazer uns exames, mas estava tudo bem, e do nada ela começou a piorar e piorar... –ele estava inconsolável, chorava como uma criança, e o desespero dele estava me deixando desesperada também –A Marina não deixou eu te ligar logo quando ela veio pra cá, mas hoje Anne, ela me pediu pra te chamar, ela disse que sabia que estava morrendo e que queria se despedir de ti.
Eu abracei ele novamente, ele me apertou forte, e com a cabeça no meu ombro entre soluços ele falava :
-Deus, não leva ela, por favor, por favor!

Aquilo me partia o coração, me deixava desesperada, sem saber o que fazer, a minha única reação era chorar, chorar e chorar.
Régis me levou até onde estava sua família, dei um abraço em cada um deles e me sentei no sofá de espera, eu queria muito vê-la, mas eu estava travada, sem reação.

O médico chegou perto para conversar com a família...
-Eu posso ver ela doutor? –enfim perguntei
-Você é da família? Desculpa é que só pode entrar familiares! -respondeu
-Ela pode entrar sim, é a namorada da minha filha doutor! –disse a mãe de Marina. Ela me olhou com um olhar de compreensão, eu sei, essa velha sempre me odiou, mas agora não era o momento pra ela implicar comigo.
Enfim, o médico me levou até onde Marina estava, e antes de entrar no quarto ele advertiu:
-Bom Anne,a Marina está dormindo por causa dos remédios, ela pode acordar a qualquer momento...e por favor, tente não provocar fortes emoções, pois pode deixar ela agitada e...
-Já entendi! -disse entrando

Dei sorte por ela estar dormindo, porque depois de vê-la desandei a chorar, ela estava tão diferente, sem cabelo, pálida, muito magra, eu a vi de um jeito que eu jamais quis ver.
Cheguei mais perto e então me sentei na cadeira que estava ao lado da sua cama, fiquei olhando fixamente sua boca, aquela que muitas vezes eu beijei, que várias vezes vi sorrisos estampados, e agora estava tão triste.
Peguei sua mão, estava fria e então segurei-a com as minhas duas mãos, fazendo carinho, tentado aquecê-la, fiquei assim por um bom tempo. Vários momentos nossos me passavam pela cabeça e às vezes eu sorria de canto lembrando...

-Tá rindo de que?
Eu a olhei surpresa, sua voz estava fraca, e ela batalhava para abrir completamente os olhos.
-Oi meu amor! –sorri torto tentando disfarçar, mas estava difícil conter as lágrimas.
-Oi  –respondeu com certo esforço –Eu estava com saudades...
-Eu também, muita... –beijei sua mão
-Desculpa por não ter me despedido de ti!
-Tudo bem amor, já passou... –disse fitando sua mão
-Mas agora que tu está aqui vou poder me despedir, e dessa vez é pra sempre!
-Não fala assim Marina...
-Anne, eu sei, eu estou morrendo, eu sinto isso, e antes que aconteça, quero dizer que eu te amo mais que tudo, sempre vou amar, agora no fim não tem como te esquecer e...
-Pára amor  –interrompi –Não fala assim –disse segurando forte sua mão

Ela estava ficando agitada, nervosa, e tudo isso a deixava muito cansada. Ela conversava comigo com muito esforço.
O médico entrou dentro do quarto e me pediu pra sair,disse que eu tinha que deixar ela descansar, pois conversas assim a deixava esgotada, pois a emoção é muito forte e pode prejudicá-la. Pude ficar por mais alguns poucos minutos, até que ela dormiu, eu não queria deixá-la, não queria me afastar, tive uma vontade imensa de permanecer do lado dela até ela sair daquela cama e melhorar completamente, mas o médico ordenou que eu saísse, e para o bem dela eu saí.

Voltei para a sala de espera, onde estava sua família...
-O que tu tá fazendo aqui? –me espantei ao ver que Roberto estava lá
-Eu te segui, não entendi por que saiu de lá de casa daquele jeito...
-Que bom que tu veio –dei um abraço nele
-Vem, vamos comer algo...
-Não to com fome Mano!
-São 3:00 horas Anne, tu saiu de casa sem comer nada, vem vamos, pelo menos tomar um café na cantina...
-Tá
...
-Ei, onde vocês vão? –perguntou Régis
-Vou levar a Anne pra comer algo ali na cantina  –respondeu Roberto
-Espera...-disse Régis
-Que foi? –questionei
-Desculpa, mas eu esqueci de te entregar isso... –disse Régis me entregando um envelope
-O que é?  -perguntei
-Não sei, Marina me entregou isso logo quando viemos para o hospital, e pediu para te dar quando eu te visse... –respondeu
-Tá bom. –disse fitando o envelope

Seguimos indo para a cantina.
Roberto me fez mil perguntas sobre Marina, como ela estava e tal, só respondi o pouco que eu sabia, tive medo de descobrir mais sobre o estado dela e saber que no final de tudo eu ficaria sem ela novamente...

-Ain mano, eu não sei muita coisa, também tenho medo de descobrir, só quero que ela fique bem, só isso...-disse chorosa
-Pega, toma um pouco de café, quer um sanduíche também?
-Não... –disse balançando a cabeça negativamente enquanto tomava um gole de café –To sem fome!
 Ficamos por um bom tempo ali, mesmo aquele café sendo horroroso.
-Anne, vou no banheiro, já volto ta?
-Tá!
Fitei o envelope que eu deixei sobre a mesa, resolvi abrir. Dentro tinha um pedaço de papel meio amassado, abri lentamente o papel dobrado e comecei a ler...

Perdoa a minha pressa, mas preciso te dizer
Se receber este bilhete por um tempo não vai mais me ver
Estou partindo agora e aonde eu vou você não pode ir
Não chegou a sua hora, seja forte tente resistir.
Não dá pra me amar, já não pode me tocar
Você tem que seguir, seu caminho sem mim
E pra esquecer da gente, olhar pra frente um conselho vou dar
Guarde uma foto ou duas, um perfume, algo assim
Jogue fora o resto pra não se lembrar mais de mim
Com o tempo as coisas voltam a rotina normal
Só uma coisa nunca mais vai mudar         
Quem ama uma vez não deixa de amar.
Vou fazer uma promessa, um dia eu volto a te encontrar
No momento adeus, se cuida, de quem sempre vai te amar


PS: não esqueça de seguir o que eu pedi...
Guarde uma foto ou duas, um perfume, algo assim
Jogue fora o resto pra não se lembrar mais de
 mim!

Te amo para todo sempre!
Marina

Quando Roberto voltou do banheiro eu já estava aos prantos, senti algo muito forte no coração, uma angústia, algo ruim que me deixou mal...

-Ela não vai morrer, ela não pode morrer! –disse chorando enquanto Roberto me abraçava
-Calma  Anne,  vamos voltar pra lá, tu vai ver, ela vai estar bem... –disse me guiando até a sala de espera

-Doutor Leonardo, comparecer urgentemente no quarto 303!– ouvimos

-Esse não é o quarto da Marina? –arregalei os olhos
-Não sei Anne  –respondeu Roberto

-Repetindo... Doutor Leonardo, comparecer urgentemente no quarto 303 -ouvimos novamente

-Sim, é o quarto dela! –disse
Puxei meu irmão para um passo mais apressado, o aperto no meu coração me dizia que algo não estava bem.
-O que foi Régis? –perguntei assustada
-Não sei Anne, a enfermeira entrou no quarto e de repente chamou os médicos, eles vieram correndo. Meu Deus, o que está acontecendo? –disse ele aflito, já chorando
Passou-se dois minutos e nós sem sabermos o porque de toda aquela aglomeração de médicos no quarto da Marina, até que vem um deles até nós...
-O que aconteceu doutor? –perguntou a mãe de Marina chorando

Ele balançou a cabeça negativamente, com uma expressão nada feliz no rosto.
Aquilo já me dizia tudo, cai sentada no sofá de espera, coloquei as mãos no rosto e me pus a chorar.

-Sinto muito, ela não resistiu  –disse o médico

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